No outro dia deram-me a experimentar uma sobremesa sobre a qual nunca tinha ouvido falar, e muito menos visto. Sabia que iria ser doce e com sabor a côco. O côco não é de todo um dos meus sabores preferidos. No entanto, venderam-me como sendo deliciosa e por isso decidi experimentar. Ainda assim, não lhe lancei imediatamente as mãos para a alcançar e levar à boca assim que a vi.
Primeiro, observei-a com atenção. Tentei perceber pelo aspeto que tinha, se se assemelhava a alguma coisa que já conhecia. Se a forma que apresentava por fora, a sua textura e até a sua possível consistência, seriam “confortáveis” para mim. Depois disso, decidi pegar nela. Iria tocar e cheirar! Se não confiar no cheiro, não como. O toque não foi maravilhoso, parecia esponjoso e fazia lembrar um marshmallow. O cheiro, apesar de não ser dos meus preferidos, era agradável. Sentia-me segura para experimentar, mas tinha algumas reticências e, por isso, a primeira trinca que dei foi pequena. O sabor não era mau, mas a consistência da sobremesa para mim não foi completamente agradável e não me deixou ir mais além. Talvez noutro dia decida experimentar novamente…
Eu sou adulta! Trago comigo anos de experiências gastronómicas. Já provei alimentos com várias texturas, sabores, temperaturas e consistências diferentes. Ainda assim, perante um novo alimento senti a necessidade de o explorar antes de o levar à boca. Usei a visão, o tato, o olfato, antes de usar o paladar.
Agora vamos pensar, porque achamos nós que um bebé deve levar imediatamente à boca o alimento que nós lhe oferecemos? Ele irá sentir-se aliciado se sentir que esse alimento lhe dá segurança. Como? Reconhecendo nele algumas características que já lhe são familiares.
Nos primeiros meses, o bebé vai através da brincadeira levar objetos à boca, como os seus brinquedos e outros que lhe aparecem pelo caminho. E isso é ótimo e deve ser estimulado com os devidos cuidados de segurança e higiene. A exploração sensorial de brinquedos nos primeiros meses de vida, vai permitir ao bebé ganhar experiências orais que serão muito importantes para a introdução alimentar. Através da mão, do olhar e da exploração oral, irá conhecer e integrar características que, na introdução alimentar lhe darão alguma confiança e segurança para as levar à boca. A representação cerebral da mãe e da boca é muito próxima, e por isso, quando um bebé aceita uma nova sensação pelas mãos será mais fácil aceitá-la na boca.
Há então duas coisas muito importantes que devemos levar desta leitura.
A primeira, é que devemos estimular o bebé a explorar o mundo e é a nossa função oferecermos variadas experiências sensoriais para que a introdução alimentar seja mais fácil.
A segunda, é que quando damos ao bebé um novo alimento para ele “comer”, é muito provável que ele não coma. E está tudo bem! Se quer que o seu bebé coma, primeiro deve deixá-lo brincar com ele. Ver, tocar, sentir, cheirar, manipular… e só então, se o bebé sentir que é seguro, levar à boca para provar e talvez até comer. Não force, dê tempo ao seu bebé. O mesmo tempo que eu precisei para levar à boca o mochi de côco.
Se a introdução alimentar for um desafio para a sua família e suscitar dúvidas, pode encontrar na Terapias Partilhadas a Consulta de Introdução Alimentar. Para além de falarmos sobre a importância das experiências sensoriais, irá ficar a saber quando, como, onde e com o quê deve iniciar a Introdução Alimentar do seu bebé.
Maria João Vieira
Terapeuta da Fala (C-038668181)